quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tim tim por Tim Tim







 Eu tenho um caso com uma mulher chamada Tim Tim. Se ela é casada?  Sim ela é casada e não é comigo. Sou o seu amante. O melhor amante que ela poderia arranjar em toda vida. Ela não costuma a falar do casamento dela e nem eu quero saber. Preocupo-me apenas em pintá-la das duas formas.

A Tim Tim é linda como é de se imaginar. Tem os cabelos enrolados e é moreninha. Não posso lhes falar concretamente da cor dos cabelos dela pois ela muda a cor constantemente e usa perucas quando lhe dá na telha.

Num dos trabalhos que ela foi fazer ela estava com os cabelos pintados com uma moda americana:californiana. Ficou muito bem na cor dela. Tim Tim foi convidada a apresentar um evento em que a ilustre Fáfá de Belém cantaria os seus maiores sucessos. Ela me contou tudo tim tim por Tim Tim!

O evento se chamava Aquarela do Brasil e ela faria parceria com um renomado ator de stand up de apelido Mocho por ter olhos vivos e grandes desde o nascimento como os de uma coruja.  Então ela foi de manhãzinha no cabeleireiro e alisou os cachos conforme fora pedido pela produção que a contratara. Ficou bonito, mas estava um dia chuvoso e por isso ela andava de um lado para o outro com um gorrinho cinzento a esconder os fios, o que a fazia ela parecer uma mendiga.

Mas Tim Tim sabia o momento certo de brilhar e não se importava de ficar o dia inteiro feia para o momento culminante da noite. A produtora do evento andava de um lado para o outro com Mocho e com Tim Tim. Ela estava nervosa mas tentava não transparecer nada para ninguém, até porquê ela sabia que na hora tudo daria certo e sabia que estava ao lado de um apresentador experiente.

Tim Tim fala o brasileiro perfeitamente, consegue até passar por uma baiana. Muita gente pensa que ela é brasileira por não ter sotaque nenhum. Nessa noite ela apresentaria muitas pessoas ilustres como o embaixador do Brasil por exemplo. Ela até levou o meu livro de pássaros se acaso conseguisse falar com alguns deles Tête-à tête.

A produtora era toda emproadinha: tinha os cabelos loiros com luzes chiques, usava uns óculos de armações finas e delicadas, botins bicudos e clássicos, calças de ganga e casaco preto comprido acintando a cintura que pouco tinha. A maquiagem era leve e ela leviana. Como julgou mal a minha Tim Tim. Achava que ela estava muito mal vestida. Tim Tim advertiu que na hora do espetáculo estaria impecável.

O Mosteiro dos Jerónimos parecia um Hotel saído de uma novela da Globo. Bombons sortidos e brigadeiros, mesas compridíssimas, tapetes a camurçarem o chão antigo, garçons a andarem de um lado para o outro, morangos banhados por fondue... Etc. e tal!

Um homem gordo foi conversar com a produtora e com os apresentadores. Ela nem se lembra o que ele era, mas era gente graúda que estava envolvida no evento. Vestia um sobretudo preto e uma gravata azul de um refinado. Tim Tim estava se sentindo mal por conta do piercing na bochecha que acabara de tirar para fazer parte do projeto. A bochecha direita dela estava inchadíssima por conta do tal piercing que lhe fazia as covinhas falças. Soltou os cabelos quando chegou perto do homem glutão que comia um brigadeiro de uma bocada só. Ele olhou para a produtora portuguesa e perguntou-lhe sorrindo satisfatoriamente:

- Você é a apresentadora?

Ela envaidecida respondeu-lhe apontada para a pobre Tim Tim:

- A apresentadora é esta.

Tim Tim estava numa lástima.

Ele olhou-a de lado e disse para a produtora:

-Você ficaria ótima como apresentadora.

Tim Tim tentava esconder o piercing inflamado com as pontas espigadas dos seus cabelos esticados. Sentiu-se posta à parte. Mas sabia que o seu vestido alugado a aguardava brilhante dentro da sua mochila.

Mocho e Tim Tim passaram e repassaram o texto. Estava tudo certo. Mas ela estava tristonha.  Fizeram cartões para não se esquecerem das falas e das deixas.  Estava mesmo tudo certo, menos a tristeza da minha pequenita.

 -Está na hora de tu te arrumares - disse a produtora com uma delicadeza fria. E lá foi Tim Tim no camarim misturado de gente se arrumar do jeitro que o espaço permitia. Uma baiana que usava um turbante brilhante olhou-a com carinho. Tim Tim animou-se. Colocou o vestido de veludo preto e lantejoulas douradas curvilíneas e a baiana elogiou-a. Conversaram um pouco e até tiraram foto juntas. A bainanita fazia parte do Balé Folclórico Baiano.

Tim Tim passou toda cintilante por entre as pessoas do camarim e um baiano que conversava com a produtora deixou de falar com ela para saudar a minha nobre francesa: "-Olha a Oxum por aqui toda ela bonita e de dourado!" A produtora ficou embasbacada. Nem sabia quem era a senhora deusa do amor e das águas docinhas.

Tim Tim com os seus saltos pretos de borboleta esvoaçou o seu encanto lepidóptero no ar e subiu o palco com toda a sua graça. O inchaço das maçãs estavam escondidos por uma mecha semi loira. O palco era todo ele dela! Somente da minha modelo-nu preferida.

Ela apertou as mãos do embaixador do Brasil e ele a cumprimentou com muita educação e um sorriso sincero. A noite foi passando e ela foi se soltando como mariposa graciosa que é. Estava quase chegando a hora de falar do fuscão de Fáfá, da sua risada inconfundível e do vermelho, vermelhusco, vermelhasso, vermelhão de toda aquela abundância que é aquela musa de Belém.

Aconteceu que num dos intervalos da apresentação, deu uma louca vontade de Tim Tim fazer pipi. Indicaram-lhe um banheiro próximo. Ela foi, mas para o lado errado. O camarim tinha aquecedor, frutas e iguarias. Ela sabia que aquele era o camarim de Fáfá. Sabia que era sdim. Entrou na casa de banho dos Jerónimos e fez o seu rico "xichic". Saiu sorrindo torto como eu mesmo costumo fazer quando consigo o que quero.

Fora  do palco o Floclore Baiano se apresentava cantando a música dos orixás dos quais ela tanto gostava. Ela dançou junto deles também.

Era agora a hora de apresentar a grande Fáfá. Seu coração estava mais calmo do que nunca. Fáfá não entrava e ela decidiu cantar em alto e bom som a música que ela sempre cantou para mim:

"Saia dessa roda venha descansar, venha para o meu colo, venha namorar, ai moreno!"

O público cantava junto com ela e ela se deliciava. O homem gordo do brigadeiro olhava com cara ruim. E ela nem se importou. Até que: "Com vocês a Fáfá do Mundo!!!" Ela apareceu linda e mais magra do que na televisão com um vestido branco acetinado de pérolas e cantou e dançou a noite inteira.

Tim Tim divertiu-se muito. Fáfá estava bem ali pertinho dela e cantava aquarela do Brasil enquanto que ela pegou o seu vestido brilhante e cuicou as coxas firmes e os quadris cheios de gingado. Toda a gente olhava somente para Tim Tim e até mesmo a Fáfá  sorriu e disse ostrando-a: "Isso é que é balanço!"

Tim Tim sabia mesmo o momento de brilhar douradamente. Conversou com o produtor de Fáfá que toda hora punha e dispunha de um cachecol dourado e de água para a cantora. Ele ficou com um dos meus livros e prometeu ler antes de entregar para a Fáfá. Tim Tim ficou feliz por mim.

O show acabou e ela ainda pensou em tocar as mãos de Fáfá. Qual o quê! Ela saiu e nem olhou para os lados. Baixou a cabeça como uma lagarta triste em não ser borboleta se encolhe dentro de um casulo. O produtor de cabelos compridos e loiros trouxe-lhe um par de pantufas fofinhas. Ela saiu para dentro de um forte em sdeixar rastro.

Tim Tim ficou estupefacta e estúpida com aquela atitude de Fáfá.

Estufou os peitinhos pequeninos e redondos que tinha e subiu ao palco novamente para fazer um sorteio de viagens fajuto promovido pelo evento. Afinal, o show tem que continuar e Tim Tim é uma verdadeira vedete!



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